Minha mente está exatamente em algum lugar... mais ou menos nessa região aí... eu acho...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Canto para minha morte

Foto: do filme "Seventh Seal" de Ingmar Bergman


Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir
Toda vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que eu esteja vendo essa pessoa pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar.

De que forma ela virá?
Será que ela vai esperar eu acabar o que tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada
E que está em algum lugar me esperando,
Embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar
Vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar
Esperas só por mim
E no teu beijo
Provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,
Mas tenho que encontrar
Vem! Mas demore a chegar
Eu te detesto e amo
Morte, morte, morte, que talvez
Seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte, que talvez
Seja o segredo desta vida

Qual será a forma de minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida?
Existem tantas... um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal-vivida,
A ferida mal-curada
A dor já envelhecida,
O câncer já espalhado e ainda escondido
Ou até, quem sabe,
O escorregão idiota num dia de sol,
A cabeça no meio-fio...
Ó morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato, e o homem
Vista-se com tua mais bela roupa quando vieres me buscar!
Que meu corpo seja cremado
E que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu.
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos,
Na palavra rude que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber... aquela noite...

Vou te encontrar
Vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar
Esperas só por mim
E no teu beijo
Provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,
Mas tenho que encontrar
Vem! Mas demore a chegar
Eu te detesto e amo
Morte, morte, morte, que talvez
Seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte, que talvez
Seja o segredo desta vida

Raul Seixas
(do álbum "Há 10 Mil Anos Atrás")

(Postagem da série: músicas que falam por mim)

Um comentário:

Unknown disse...

Oi, Cabelo!
Só pra dizer que achei o teu blog a tua cara, o que quer dizer que achei realmente muito bom. E que entrei em todos os anúncios do google que tinham nele, pra ver se vai um $$ pra ti...hehehe
Aliás, com o "Canto para minha morte", tinha um monte de anúncios de funerárias! :P
Beijão, amigo querido!